domingo, 30 de março de 2014

A vida amorosa sem graça de Valdoir

Pobre Valdoir.

Nasceu de parto normal, com o peso comum, nenhuma deformidade fora a cara de joelho. Foi criado normalmente pelos pais, teve catapora aos 6 anos, quebrou um dedo aos 9 jogando bola, comeu biscoito que caiu no chão e não morreu, tinha a habilidade de engolir o ar e falar seu nome arrotando, não gostava de comer mondongo, tinha medo do plantão da Globo, nunca rodou na escola mas também nunca gabaritou nada.

Descobriu a masturbação com cerca de 12 anos e no afã da descoberta, na loucura do novo prazer, na ferocidade do ato, arrebentou o freio do pinto, não contou à mãe por medo e teve uma infecção que deixou uma cicatriz maneira. Foi sua história mais emocionante da juventude, junto com o dia em que abriu um pacote de Miojo e foi agraciado com dois temperos.

Com 14 anos conheceu Luciela, uma moreninha tímida e sem grandes atrativos que curtia quietinha seus fones de ouvido durante a aula. Depois de tanto ouvir dos seus colegas de que deveria abordá-la, Valdoir tomou coragem, se aproximou dela, perguntou-a se queria ir à casa dele assistir Dragon Ball e ela disse não. Que chato.

Não tardou e no mesmo ano Tina, uma moça ruiva, começou a conversar com ele. Seus colegas o aconselharam a não falar com aquela guria, pois segundo algumas histórias ela era uma vagabunda que já tinha até feito sexo, que horror. Seguindo seu coração - correção: seguindo mesmo sua piroca, mas ninguém admite -, continuou falando com Tina e assim ficou com ela, descobriu a beleza do primeiro beijo numa sinfonia de incisivos se batendo e dando choque, o arrepio do cotovelo safado no peitinho durante o filme, o sabor da lambidinha no ouvido mal lavado com aquele gosto de cera, mas não a anestesia inebriante do sexo. Tina o trocou por outro cara mais bonito e mais forte.

Foi com 15 anos que começou a ir às festas de debutantes, e a julgar pela quantidade de garotas livres nesses eventos, foi a grande esperança de Valdoir conseguir uma pepeca para sua iniciação ao mundo adulto. E assim, cego e burro, esse babaca não pegou ninguém em nenhuma das 8 festas durante esse ano. Seu melhor evento nesse período foi ter tomado um porre épico, vomitado no meio do salão, encochado a avó da aniversariante, se masturbado ao lado do DJ, ter sido expulso e no fim levado uma surra de fio de telefone do pai.

No terceiro ano do Ensino Médio que foi saber qual era a temperatura, profundidade e umidade de uma vulva. E foi com Shana, uma moça de 32 anos feia pra caralho que deu atenção a ele num momento de solidão. Não foi um sexo bonito, principalmente pelo fato de os dois estarem perdendo a virgindade naquele momento e não conhecerem muito bem a arte da cópula. Essas coisas de novato, como tentar desenrolar a camisinha para o lado errado e arrebentar a borda do condom para assim ele sair do tico e ficar dentro da moça.

Namoraram por 19 dias, com declarações que fariam os poetas românticos lamentarem a pobreza de suas obras. Valdoir simplesmente largou Shana quando voltou a encontrar Tina, aquela mesma, de três parágrafos antes. Não, ele não ficou com a Tina; apenas reencontrá-la, ver seu sorriso e receber um abraço bastaram para Valdoir julgar que seu tempo com Shana acabara e que estava para começar uma era com seu primeiro amor. Tina não quis porra nenhuma. Estava grávida do cara mais bonito e mais forte, mas logo em seguida esse cara mais bonito e mais forte a largaria para ficar com uma garota mais bonita e mais gostosa. A vida tem dessas coisas.

Então Valdoir se formou no Ensino Médio, mas não compareceu à própria cerimônia e festa pois estava com uma dor fudida no dente. Ficou em casa jogando bolita com o vô e tomando paracetamol. Depois de 5 dias e 2 dentes podres caídos, sua mãe concluiu que era hora de levá-lo à dentista. Ficou com um buraco na gengiva, teve que colocar um aparelho e ficou mais feio do que era.

E então chegamos ao Valdoir de hoje! Um jovem de 20 anos, vivido, cheio de vigor no corpo e pouca sabedoria no cérebro. Com muito sangue para seu corpo cavernoso e muita oleosidade para seu rosto. Com muito potencial para receber conhecimento e pouco potencial para compreendê-lo. Com muita beleza interna e pouca externa. Um grande jovem, cheio de vontades, desejos, frustrações e acne.

E vemos nosso campeão pegando o Alameda pra descer na altura da Azenha! Ele está no ônibus lotado. Ao seu lado um jovem escuta no viva-voz do celular um funk cuja letra envolve a anatomia genital feminina, mas Valdoir não se incomoda com essa música de merda, pois ele está com seus fones curtindo um Fresno maroto e olhando uma garota que mora perto de sua casa (a dele).

A garota já falara com ele mais de uma vez na padaria. Um 'oi' aqui, um 'com licença' ali, um 'tchau boa tarde' noutro dia que renderam horas de masturbação nervosa e algumas meias rasgadas. Não ficou só nisso, claro. Um dia os dois voltaram juntos da padaria, e assim Valdoir descobriu que a jovem moreninha bunduda se chamava Clara, tinha 19 anos, fazia técnico em biblioteconomia e já passara o verão em Imbé.

Valdoir, com seu beiço proeminente, chegou a buscar momentos para encontrar Clara, mas falhou no intento. A guria tinha horários irregulares. Foi quando, no ônibus, viu a moça e decidiu que seria naquele dia que ele a convidaria para sair.

Ela desceu uma parada antes, a última antes de cruzar a Ipiranga, e Valdoir a seguiu. Se fazendo de louco, a ultrapassou olhando pra cima e manifestou completa surpresa quando a viu (quem olhou de fora o achou um imbecil de marca maior). Valdoir riu. Clara riu. Um terceiro cara que passava por ali se cuspiu todo rindo.

Nosso herói precisava puxar um assunto com a moça, então astutamente perguntou onde ela ia, e teve como resposta o Hospital Ernesto Dornelles. Valdoir complementou que era um ótimo hospital. Clara apenas olhou e nada disse. Valdoir continuou, dizendo que uma vez levou sua avó aí pra tirar uma verruga do sovaco e foram muito bem atendidos e que lá tem uma TV que passa Vídeo Show enquanto você espera. Clara não soube reagir ante essa informação, mas foi salva pela gargalhada gorgolejante de Valdoir e riu junto, aproveitando a deixa para se despedir, ao que foi retrucado com um eu te acompanho. E assim seguiram até a porta do hospital.

Lá, na entrada do hospital, Valdoir sentiu a chance chegar. Era o princípio de tudo. Clara era a guria perfeita. Era inteligente, tinha a bunda grande, bonita, poderia muito bem namorar com ela, casar, ter um filho. Nunca encontrara uma jovem assim, talvez nunca encontraria, ele, com aquela lata horrorosa, sem talento pra porralguma, com um vocabulário raso, pouco argumento, petista, feio, feio, feio. Tomou a dianteira, afinal, um homem de atitude ganha o mundo.

- Então, Clara, queria te convidar pra sair uma hora dessas, sabe, comer um xis no Speed...

- Não, Valdo, tenho namorado!

E assim terminou a triste saga completamente tediosa de Valdoir. Desculpa.

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(Rumores contam que após o fora Valdoir foi abordado por um adulto de estatura muito abaixo do normal com a promessa de putas lindas e fogosas a preços módicos. O que se sabe é que nosso personagem foi encontrado no Guaíba, próximo ao Beira Rio, totalmente nu e incapaz de caminhar.)

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